quarta-feira, 28 de abril de 2010
11- Os Mandamentos: dom de Deus:
Ninguém abriu a boca.
Então perguntei quantos eram.
Ninguém se arriscou a falar.
Perguntei quantos eram os “dez” Mandamentos.
Ainda assim houve quem duvidasse.
Talvez o silêncio resultava mais da timidez do que da ignorância.
Em todo caso...
Muito bem – eu disse –, então agora vamos dizer todos juntos os Dez Mandamentos da Lei de Deus: primeiro... segundo... terceiro...
Conseguimos chegar ao quinto, depois a coisa empacou.
Então, fui dando as dicas: sexto... sétimo...
Quando chegamos no oitavo, eu disse: “Não levantar...” e fiquei esperando o resto da frase.
Uma mulher criou coragem e completou assim: “a mulher do próximo”.
Tive que rir.
“De fato – eu disse -, nem sempre é fácil levantar... a mulher do próximo, sobretudo se for pesada”...
Todo mundo riu também e... mais uma vez constatei como o que se aprendeu no catecismo, se é que se aprendeu, aos poucos vai se apagando da memória e, o que é pior, da vida.
Sendo assim, vamos recordar os Mandamentos que são a expressão da vontade de nosso Deus para o nosso bem.
Nossas leis se multiplicam simplesmente porque não se observam as “dez leis” que Deus nos deu, condensadas em “duas” por Jesus e, afinal, em uma só: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Tudo se resume no amor.
Nos Mandamentos estão em jogo três amores que, na verdade, são um só: o amor de Deus por nós, o nosso amor a Deus e o nosso amor aos irmãos e irmãs.
Expulsemos, pois, da mente e do coração o temor de que os Mandamentos são normas impostas por um Deus voluntarioso e dominador.
Pelo contrário, compreendamos que tudo se reduz ao amor.
Diz São João: “Amar consiste no seguinte: em viver conforme os mandamentos de Deus” (2João 6).
E explicita: “No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou á perfeição do amor. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro... E este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1João 4,18-19.21).
Jesus, por sua vez, nos interpela: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando” (João 15,14).
Estas palavras contêm todo o espírito com que devemos conhecer, amar e praticar os Mandamentos.
Os Dez Mandamentos não foram dados por Deus pelo gosto de mandar.
Se os seres humanos, criados para o bem, não tivessem, desde o início, praticado o mal – e ainda hoje o praticam! –, que necessidade haveria de mandamentos?
O que se faz por amor não precisa ser mandado.
Quando, porém, o amor falha “por dentro” – o que ocorre quando Deus deixa de ser a meta da nossa vida –, o ser humano precisa de ajuda “vinda de fora” para alcançar seu Fim.
Eis a razão pela qual Deus, em sua misericórdia, nos proporciona essa ajuda por meio dos mandamentos.
“O mandamento é uma lâmpada, e a lei, uma luz” (Provérbios 6,23).
Deus, com sua luz, nos mostra o Caminho da Vida.
Convençamo-nos, pois, que os mandamentos, longe de ser um ato ditatorial, são a mão amorosa que o Pai nos estende para nos conduzir pelo caminho do bem.
Também não se pode pensar que haja contraste entre os mandamentos e o Evangelho. Pelo contrário.
O Evangelho continua e aperfeiçoa os mandamentos.
O próprio Jesus disse: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir” (Mateus 5,17).
Aqui conviria ler por inteiro o Sermão da Montanha (cf. Mateus 5-7).
A abertura é solene: Jesus proclama as Bem-aventuranças.
Elas são a fina-flor da perfeição evangélica.
A perfeição do Novo Testamento é mais exigente que a do Antigo.
Por isso, para se fazer entender adequadamente a respeito de alguns pontos, Jesus diz: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás’ [...] ‘Não cometerás adultério’ [...] ‘Quem despedir sua mulher dê-lhe um atestado de divórcio’ [...] ‘Não jurarás falso’ [...] ‘Olho por olho, dente por dente’ [...] ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’”...
A todos estes mandamentos, digamos, à “moda do Antigo Testamento”, Jesus contrapõe os mandamentos à “moda do Evangelho”, com estas palavras: “Eu, porém, vos digo”....
Dessa forma, Ele corrige e aperfeiçoa as limitações dos mandamentos da Antiga Aliança.
Não só, mas Jesus também sintetizou Dez Mandamentos em poucas palavras.
“Um fariseu perguntou a Jesus: ‘Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?’ Ele respondeu: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mateus 22,36-40).
Por sua vez, São Paulo ensina que “o amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Romanos 13,10).
Foi este o mandamento antigo, que Jesus na última ceia chamou de mandamento novo, e que nos deixou como sua suprema vontade: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (João 13,34).
Este é o coração da perfeição do Evangelho!
Que conclusão se deve tirar de tudo isto?
Esta: quem quiser buscar a perfeição proposta por Jesus não pode limitar-se ao cumprimento do mínimo dos mínimos.
Os fariseus e escribas é que mediam até onde podiam chegar sem cometer pecado...
Jesus advertiu seus discípulos contra esse perigo: “Eu vos digo: se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos céus” (Mateus 5,20).
Jesus nos convida ao máximo possível: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,48).
Não basta evitar o pecado, não basta ser bom, é preciso esforçar-se para ser sempre melhor.
Evidentemente, para isso, precisamos da ajuda do Senhor, como ele mesmo afirmou: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15,5).
Para terminar, vamos recordar os Mandamentos da Lei de Deus:
“Amar a Deus sobre todas as coisas.
Não tomar seu santo nome em vão.
Guardar domingos e festas de guarda.
Honrar pai e mãe.
Não matar.
Não pecar contra a castidade.
Não furtar.
Não levantar falso testemunho.
Não desejar a mulher do próximo.
Não cobiçar as coisas alheias”.
Muito bem.
Agora seria conveniente fazer um exame de consciência para ver se você procura praticar a vontade de Deus e nosso Pai.
E, se tiver dúvida, achando que os Mandamentos não condizem com o ser humano, experimente dizê-los em forma negativa: ponha um “não” diante dos três primeiros, e um “sim”, no lugar do “não”, diante dos outros sete.
E veja o que sobra do ser humano e da humanidade: esse mundo seria um inferno!
Os Mandamentos ajudam o ser humano a ser “mais humano”, indicam o caminho da Vida, da Verdade, do Bem e... do céu.
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Para aprofundar os Mandamentos, cf. HILÁRIO MOSER, Os Mandamentos, Dom de Deus para nós, seu povo, Editora Salesiana, São Paulo, 2008.
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domingo, 25 de abril de 2010
12- Viver segundo o Espírito:
Pouco tempo atrás, um amigo me mandou uma mensagem por e-mail que terminava com este pensamento: “Seja qual for a posição do corpo, a alma pode estar sempre de joelhos”.
Os antigos navegantes dos mares se guiavam pelos astros.
Era olhando para as estrelas que eles sabiam a rota a seguir.
Famosa ficou a estrela de Natal que guiou os reis magos até o presépio de Jesus.
Em certos pontos da costa, existem faróis que sinalizam aos navios a proximidade de acidentes que podem provocar seu afundamento.
Nos aeroportos, há luzes que apontam a direção para os aviões e birutas que indicam a direção dos ventos.
As estradas do mundo estão repletas de sinalizações para indicar o caminho e chamar a atenção dos viajantes.
A agulha da bússola sempre aponta para o Norte magnético da terra e, assim, orienta quem dela se serve.
Não haverá também indicadores que mostrem o rumo do coração?
“Coração”, em sentido bíblico, é o centro do ser humano, sede de tudo aquilo que a pessoa é diante de si mesma, diante dos outros e diante de Deus.
Existem, sim, esses indicadores, e foram postos ao longo do nosso caminho por Jesus.
Aliás, Ele mesmo se disse é o Caminho, e acrescentou : “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida” (João 8,12).
Outro grande “sinalizador” para a nossa vida é o Espírito Santo: “o Espírito da Verdade” – como disse Jesus – “ensinar-vos-á toda a verdade” (João 16,13).
Um terceiro sinalizador é a Igreja: por meio do seu Magistério, ela nos transmite a Palavra de Deus, a santa vontade do Pai.
Um quarto sinalizador é a Sagrada Escritura (Bíblia) que a Igreja nos garante conter a Palavra de Deus escrita, inspirada pelo Espírito Santo.
Fiquemos por aqui.
Há mais “sinais” de Deus ao longo do nosso caminho: os famosos “sinais dos tempos” de que falava o Beato João XXIII.
Na verdade, tudo o que existe – da menor à maior das criaturas –, tudo o que acontece, em pequeno e em grande, tudo é sinal de Deus para quem tem fé.
Como ensina São Paulo: “Tudo colabora para o bem dos que amam a Deus” (Romanos 8, 28).
Envolvidos por sinais, mergulhados em sinais de Deus, não podemos perder o caminho que nos leva diariamente a Ele.
Pergunta oportuna: por que toda essa conversa sobre sinais e sinalizadores?
Resposta: porque “espiritualidade” consiste precisamente em seguir na vida de cada dia o caminho que esses sinalizadores nos apontam.
Houve um tempo não muito distante – talvez haja ainda –, em que pronunciar a palavra “espiritualidade” causava arrepios em algumas pessoas, porque, segundo elas, tratava-se de “intimismo”.
Intimistas são aqueles cristãos que cultivam somente afetos, sentimentos, orações melosas, individualistas, totalmente desligados da realidade concreta: rezam muito, mas não se comprometem com nada.
De fato, o intimismo não leva a nada, é só ilusão de religião.
Nem por isso, todavia, deve-se aborrecer a palavra “espiritualidade”, pois ela indica com perfeição o de que se trata: trata-se de viver segundo o “Espírito”.
Como ensina S. Paulo: “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses
é que são filhos de Deus” (Romanos 8,14).
Esses são os verdadeiros homens “espirituais”, que vivem a verdadeira “espiritualidade”.
Portanto, nada de medo da palavra em discussão.
Espiritualidade consiste em deixar-se guiar pelos sinais de Deus, particularmente por Jesus (suas palavras e exemplos), pelo Espírito Santo (suas inspirações interiores), pela Igreja (seu Magistério) e pela Bíblia (lida na Igreja e tal como a Igreja a interpreta), que são os sinais mais importantes que nos podem orientar.
Esses quatro sinalizadores nos mostram o caminho a seguir.
Seguindo o caminho indicado, nos tornaremos realmente “espirituais”, viveremos uma verdadeira espiritualidade.
Explicitando melhor as coisas, a espiritualidade é viver a vida de cada dia, como ela é, tomando Jesus como nosso guia, nossa luz.
Tudo o que nos convém, nos vem por meio de Jesus: ensinamentos, palavras, exemplos, Igreja, sacramentos, Espírito Santo.
Tudo isto nos ajuda a viver a vida quotidiana da forma que Jesus nos ensinou: isso é espiritualidade.
Espiritualidade não é só rezar, não é só sacramentos, não é só atos religiosos...
Espiritualidade é também trabalho, estudo, relacionamentos, compromissos, lazer, alegria, enfermidade, saúde, inclusive morte... tudo vivido conforme Jesus nos ensinou.
Não é sem motivo que entre as pessoas que mais se comprometeram com obras sociais e com a transformação da sociedade e do mundo estão os santos e santas.
Quanto mais alguém se deixa guiar pelo Espírito, tanto mais se compromete na transformação da realidade, tanto mais quer que o mundo seja evangelizado.
Citemos São Vicente de Paulo, Dom Bosco, Madre Teresa de Calcutá...
O Espírito conduz as pessoas por caminhos diversos e concede a cada uma os dons que Ele quer.
É assim que a alguns santos e santas, Ele concedeu dons extraordinários, como milagres, experiências místicas fora do comum.
Isto, porém, não significa que nós, digamos, gente comum, não possamos e devamos viver uma espiritualidade autêntica.
Há muitos santos e santas que não fizeram nada de fora do comum, não receberam dons especiais, e são grandes santos.
Pos bem, viva a sua vida de cada dia, viva intensamente, saboreie a vida como ela é, aceite a vida como ela vem pela frente, mas faça tudo isso sempre e só de acordo com Jesus, o Espírito Santo, a Igreja e a Escritura.
Você será um grande “espiritual” e não se perderá por caminhos onde a falta de sinalizadores provoca acidentes e desastres.
Entre os meios que nos ajudam nesse esforço está a meditação da Palavra de Deus, a oração, o desapego dos bens terrenos, a renúncia ao mal, os sacramentos da reconciliação e da eucaristia, a orientação espiritual, a devoção à Mãe de Deus.
Tudo nos ajuda a estarmos sempre voltados para o Senhor, sem descuidarmos de nossas tarefas terrenas.
Voltemos, pois, à frase do início: “Seja qual for a posição do corpo, a alma sempre pode estar de joelhos”.
Seja o que for aquilo que fazemos durante a vida, sempre podemos “estar de joelhos” diante de Jesus, quer dizer, sempre podemos – e devemos, como discípulos seus – estar voltados para Ele e receber dele a luz, a palavra que nos indica o caminho.
Sigamos por esse caminho e estaremos vivendo uma autêntica espiritualidade, porque tudo o que Jesus nos aponta, Ele o aponta por meio de seu Espírito.
Como diz S. Paulo, recordado acima: “Os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus” (Romanos 8,14).
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13- Junto à Mãe de Jesus:
Maria faz parte integrante da nossa fé; por sua vez, sua presença no Calvário nos ajuda a participar mais intensamente da caminhada quaresmal rumo à Páscoa.
Quando fui nomeado bispo, tomei como lema do meu ministério as palavras IUXTA MATREM, isto é, JUNTO À MÃE (de Jesus), extraídas do Evangelho de São João, onde diz: “Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, JUNTO A ELA, o discípulo que ele amava...” (João 19, 25-26).
O Calvário deve ter sido um cenário chocante naquela primeira sexta-feira santa quando o Filho de Deus foi pregado numa cruz, levantada entre as cruzes de dois bandidos, como sinal da vitória conquistada por seus inimigos.
A arte de todos os tempos tentou reproduzir aquele lugar trágico e aquelas horas eternas pela intensidade do sofrimento que foram as testemunhas da morte do Filho do Altíssimo.
Os próprios evangelhos, pela forma simples e esquelética com que aludem ao monte da crucificação e da morte do Senhor, fazem nosso íntimo estremecer.
Todos eles dizem simplesmente: “um lugar chamado Calvário”, ou seja, lugar da Caveira.
Não vemos ainda hoje estampas que mostram ao pé da cruz uma caveira?
Não houve uma tradição que afirmava ali ter sido sepultado o primeiro homem, Adão?
Os evangelhos pintam o Calvário com imagens assustadoras.
A cruz de Jesus foi levantada em torno das nove horas da manhã.
“Desde o meio-dia, uma escuridão cobriu toda a terra até as três horas da tarde. Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito (chamando pelo Pai; depois) deu outra vez um forte grito e entregou o espírito. Nisso, o véu do Santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram! Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitas pessoas” (Mateus 27, 45.50-53).
Que cena tremenda!
É desta forma que, aproximadamente, Mateus, Marcos e Lucas descrevem o impacto da morte do Senhor.
Diverso é o cenário pintado por João.
O fim de Jesus é sereno como o entardecer: “Sabendo Jesus que tudo estava consumado, e para que se cumprisse a Escritura até o fim, disse: Tenho sede! Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram num ramo de hissopo uma esponja embebida de vinagre e a levaram à sua boca. Ele tomou o vinagre e disse: Está consumado. E inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,28-30).
Parece que João quis transmitir-nos uma visão plácida e amorosa da morte de Jesus.
De fato, seu ângulo de visão do Calvário, apesar da constatação pessoal da brutalidade dos sofrimentos do Senhor – afinal, João foi o único apóstolo a estar presente –, foi o ângulo da vitória do amor de Jesus sobre os seus perseguidores e algozes.
João relata: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (João 13,1).
E referindo a grande oração de Jesus antes de caminhar para a morte, o evangelista diz: “Assim Jesus falou, e elevando os olhos ao céu, disse: Pai, chegou a hora” (João 17,1).
Jesus não foi arrebatado para a morte pelos seus inimigos, ele entregou sua vida espontaneamente. “Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho o poder de dá-la, como tenho o poder de recebê-la de novo” (João 10,17-18).
Assim, a morte amorosa de Jesus no Calvário confirmava que Ele se entregava por amor ao Pai. “É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida” (João 10,17).
O Calvário, portanto, visto pelo prisma do amor assume outras cores e enche nosso coração de paz e misericórdia: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (João 10,11).
João quis sublinhar esta realidade e o fez com sua pena tingida de perdão e serenidade.
Esta foi a grande vitória de Jesus, a vitória do amor pelo Pai e por nós.
Com seu lado aberto pela lança, Jesus cumpre sua promessa: “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (João 12,32).
Eis que todos nós corremos para o alto do monte onde o Senhor obteve sua maior vitória sobre seus inimigos, onde o amor de Jesus se expandiu a todos os tempos e lugares, para sempre.
Ao cenário dos últimos momentos da vida do Senhor João dá um toque especial que tem o poder de suavizar todo o imenso sofrimento de quantos ainda hoje o contemplam.
Eis como João nos fala: “Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: Mulher, eis o teu filho! Depois disse ao discípulo: Eis a tua mãe! A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu” (João 19,25-27).
João, único dos apóstolos a percorrer o caminho da morte do Mestre, e algumas mulheres, corajosas e santas, a primeira delas, Maria, mãe de Jesus.
Com sua presença, o Calvário muda de cor.
O amor que elas e João carregam em seu coração enche o Calvário de flores.
Jesus contempla aquelas pessoas amigas e, voltando seus olhos para sua mãe, confia a seu coração todos nós.
Depois, aos cuidados de todos nós, na pessoa de João, entrega sua mãe.
Agora ele poderia morrer em paz; agora realmente tudo estava consumado.
Jesus acabava de assinar seu testamento. “E inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,30).
Dessa forma, o Calvário se transfigura no monte do amor.
Por amor, o Filho de Deus se encarnou, por amor viveu, por amor morreu.
Concebido pelo Espírito Santo no seio de Maria, ao longo de sua vida foi conduzido passo a passo pelo Espírito de Amor.
Esse Espírito levou o amor de Jesus a tal ponto de amadurecimento que Ele decidiu entregar-se voluntariamente à morte por amor ao Pai e a todos nós.
No Calvário, o amor de Jesus desabrochou como uma flor de infinita grandeza e beleza.
Por isso, com razão, o evangelista João considera a cruz como a vitória do Senhor sobre todas as forças adversas.
Com razão, ele retrata a morte de Jesus na serenidade do Filho que inclina suavemente a cabeça reafirmando o “sim” à vontade do Pai, sem gritos, sem estremecimentos.
Ao pé da cruz estava Maria, sua mãe.
Ela também, que sempre vivera na docilidade ao Espírito Santo, viu desabrochar dentro de si o amor em plenitude, como nunca em sua vida.
Outra flor adornava o Calvário: o amor de Maria.
Ela, em atitude corajosa de quem não se deixa abater pela desgraça, uniu seu espírito ao de seu Filho na oferta do sacrifício redentor ao Pai.
Se Jesus inclinou a cabeça em sinal de aceitação da sua morte pela nossa salvação, Maria levantou seus olhos para a cruz como num gesto de oferenda do próprio Filho ao Pai celeste de quem o recebera para tornar-se homem.
Mãe e Filho, unidos pelo mesmo amor salvador, fizeram do Calvário o monte do amor, o monte da vitória, o monte da glória.
Não sem motivo Jesus foi sepultado nesse monte, pois onde o amor o levara à morte, haveria também de reconduzi-lo à vida, à festa da ressurreição.
O quarto evangelho, ao dizer que no Calvário estavam presentes diversas mulheres, entre as quais, Maria, mãe de Jesus, acrescenta que “ao lado dela” (João 19,26) se encontrava João, o discípulo amado.
Que fazia ali este apóstolo, único dos doze a acompanhar o Senhor até o fim?
Sem dúvida, o amor que o Mestre tinha por este discípulo despertou no coração de João a consciência de que amor com amor se paga.
Certamente também João foi conduzido até ali, corajosamente, pelo Espírito de Amor.
Também no seu coração o amor amadureceu ao ponto de enfrentar sem medo os inimigos do Mestre e testemunhar a Ele toda a sua dedicação até o último momento.
Também o amor de João floresceu nesse dia como uma flor naquele monte pedregoso.
João, porém, também por parte de Jesus estava ali para cumprir uma missão: naquele momento, ele representava a todos nós.
Sem dúvida, na entregar João a Maria como filho, Jesus pensava em nós; e ao confiar Maria a João, Jesus a confiava aos cuidados de todos nós.
Maria se tornava naquela hora suprema a nova Eva, a mãe de todos os viventes, de todos os filhos e filhas de Deus.
Por isso João estava “junto dela”: junto dela como filho, junto dela como guarda da mãe de Jesus, para sempre.
Não conhecemos os detalhes da vida de João que, como consta da tradição, faleceu em idade muito avançada.
Podemos, porém, ter certeza de que sempre esteve ao lado de Maria.
Maria foi para ele mãe, auxílio, modelo, defesa, apoio, enfim, tudo o que uma mãe representa para o próprio filho.
João, por sua vez, soube, não só acolher Maria em sua casa, mas sobretudo acolher as lições que Maria lhe ministrava a cada passo: toda de Deus, atenta à sua Palavra, preocupada em correr em ajuda às necessidades de todos, como sabe fazer uma mãe solícita.
Em particular, aprendeu de Maria a amar.
Não será por essa razão que o evangelho e as cartas de João são esplêndidos testemunhos de amor tal como Jesus viveu e ensinou?
E de quem Jesus aprendeu a amar?
Seja, pois, esta a nossa conclusão: em todo tempo e lugar, permaneçamos “junto à Mãe de Jesus”, não somente para que ela seja nossa Mãe e Auxiliadora, mas para olharmos para ela como modelo de discípula de seu Filho, como Mestra do Evangelho, Mãe do belo Amor.
Sim, na vida e na morte, JUNTO À MÃE DE JESUS!
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14- Viver e morrer por Cristo:
Você pensa que viver como Cristo ensinou e até morrer por Ele é impossível?
Veja como não é assim: conheça a Bem-aventurada Albertina Bérkenbrock, (clique com o mouse sobre o nome), brasileira, neta de alemães, nascida na pequena comunidade de São Luís, paróquia de Vargem do Cedro, diocese de Tubarão, SC.
Albertina Bérkenbrock, com apenas 12 anos de idade, morta em 15 de junho de 1931 por um homem que queria violentá-la, foi beatificada como virgem e mártir, em Tubarão, no dia 20 de outubro de 2007.
Albertina, bem-aventurada, é uma luz posta sobre o candelabro: ela ilumina os corações, dissipa as trevas, indica veredas, aponta caminhos, mostra o Evangelho.
Em sua breve vida, ela jamais caminhou nas trevas. Sua vida foi simples como a água e o pão; nada fez fora do comum. Viveu, porém, luminosamente. Casa, família, escola, trabalho, igreja, oração... tudo simples, tudo lúcido.
A luz do seu batismo iluminava-a por inteiro. Por isso, Albertina brilhava diante de todos. Hoje, sua luz brilha em nossa terra, para todos, especialmente para a juventude. Seu exemplo ensina como viver na luz do batismo e do Evangelho de Jesus.
Albertina nasceu no dia 11 de abril de 1919; foi batizada em 25 de maio de 1919, crismou-se em 9 de março de 1925 e fez a primeira Comunhão no dia 16 de agosto de 1928.
Os Bérkenbrock eram família numerosa de agricultores. Bons cristãos, nunca faltavam às celebrações da comunidade católica local. Recitavam as orações em família; em sua casa nunca faltou a oração do terço de Nossa Senhora. Todos os domingos e dias santos iam à missa.
Seus pais e familiares souberam educar a menina na fé e lhe transmitiram muito cedo as principais verdades da Igreja. Ela aprendeu logo as orações, era perseverante em fazê-las e muito recolhida ao rezar.
Sempre que um padre aparecia
A formação cristã instilou em Albertina a inclinação à bondade, às práticas religiosas e à vivência das virtudes cristãs, na medida em que uma menina de sua idade as entendia e podia vivê-las.
Foi no ambiente simples, belo e cristão de sua família que Albertina cresceu. Ajudava os pais nos trabalhos da roça e
Gozava de grande estima na escolinha local, particularmente por parte de seu professor, que a elogiava por suas condições espirituais e morais superiores à sua idade e que a distinguiam entre as colegas de escola.
Ela se aplicou ao estudo, aprendeu bem o catecismo, conheceu os Mandamentos de Deus e seu significado. Às vezes, alguns meninos punham à prova sua mansidão, modéstia, timidez e repugnância por certas faltas. Albertina então se calava.
Era pessoa cândida, simples, sem fingimentos. Grande era sua caridade. Gostava de acompanhar as meninas mais pobres, de jogar com elas e com elas dividir o pão que trazia de casa para comer no intervalo das aulas.
Teve especial carinho para com os filhos do seu assassino, que trabalhava na casa do pai. Muitas vezes Albertina lhe deu de comer a ele e aos filhos pequenos, com os quais se entretinha alegremente, acariciando-os e carregando-os ao colo.
Essas atitudes cristãs mostram que Albertina, apesar de sua pouca idade, vivia impregnada de Evangelho. Não é de estranhar, portanto, se comportou com fortaleza cristã no momento de sua morte.
Tudo corria normalmente no dia 15 de junho de 1931. Perdera-se um boi pelos pastos.
Albertina, a pedido do pai, vai procurá-lo. Anda de cá para lá, olha, chama pelo “Pintado”, mas nada! De longe, Maneco Palhoça (apelido do assassino), que rumina dentro de si o plano de assediar a menina, acompanha-a com o olhar e estuda como aproximar-se dela e fazer-lhe a proposta.
Albertina, apesar de seus 12 anos, aparentava mais idade e tinha um corpo já bastante desenvolvido; era alta e forte, acostumada ao sol e aos trabalhos da roça. Tinha cabelos louros tendendo ao castanho, olhos verde-escuros; era bonita, uma mocinha. Como não desejá-la?
Albertina procura o boi fugitivo. De repente vê ao longe alguns chifres e corre naquela direção; eram, porém, outros bois, que estavam amarrados ali. Com surpresa, porém, encontra perto deles Maneco, carregando feijão na carroça.
À pergunta de Albertina pelo boi desaparecido, o homem lhe dá uma pista falsa a fim de encaminhá-la ao lugar onde poderia satisfazer seus desejos sem chamar atenção.
Albertina, ingênua, seguiu a indicação de Maneco, embrenhou-se pela mata. De repente, percebe que os gravetos estalam, as folhas farfalham... Ela pensa ser o boi; eis, porém, que, dá de cara com Maneco. Fica petrificada.
Chegara o momento supremo! Maneco lhe propõe sua intenção. Albertina, decididamente, recusa. Começa então a tentativa do assassino de se apossar de Albertina, mas ela não se deixa subjugar. A menina é forte. Aos pontapés, quase derruba o assassino. A luta é longa e terrível. Ela não cede.
Abatida, por fim, ao chão, agora está totalmente nas mãos do agressor. Ainda assim, defende-se, agarra seu vestido e se cobre o mais que pode. Maneco, derrotado moralmente pela menina, vinga-se, agarra-a pelos cabelos e afunda o canivete no pescoço e a degola.
Está morta Albertina!
Por volta das 18 horas, Albertina, morta, retorna à casa paterna... Em meio à dor dos familiares, havia um conforto: Albertina tinha resistido, conservara sua pureza e virgindade (mais tarde, o assassino, na cadeia, confessaria a companheiros como Albertina resistiu valentemente a seus intensos sensuais).
Dia 17 de junho, sob forte chuva, Albertina foi sepultada no centro do cemitério de São Luís. Todos voltam para casa e se perguntam se foi sonho ou realidade o que aconteceu. E comentam: Albertina não era uma menina qualquer. Era uma menina especial.
Imediatamente, formou-se entre o povo a convicção de que Albertina morreu mártir e, por isso, é “santa”. Muito cedo começaram a correr relatos de graças alcançadas por intercessão de Albertina. Iniciaram-se romarias ao lugar de sua morte e a seu túmulo no cemitério de São Luís; essa interminável peregrinação dura até hoje.
Aberta a Causa de Beatificação e Canonização em 1952, finalmente, chegou a bom termo no fim de 2006. Sua morte foi reconhecida como autêntico martírio por decreto do Papa Bento XVI, seguindo-se a beatificação.
Hoje, os restos mortais da Bem-aventurada Albertina estão sepultados na capela de São Luís, sua terra natal e que a viu morrer como virgem e mártir. No calendário litúrgico, sua festa é celebrada no dia 15 de junho, data do seu martírio.
O martírio é um dom de Deus e Ele o dá a quem quer. Entretanto, a vida cristã de Albertina foi fruto de seu empenho para ser coerente com o Batismo e com o Evangelho que ela aprendeu na infância. Seu testemunho de vida é um estímulo para você também viver em plena coerência, como discípulo e discípula de Jesus.
Isso você pode e mesmo deve fazer; basta querer, pois a força de Deus está sempre do seu lado.
Em todo tempo e lugar, esforce-se por dar testemunho de Jesus Cristo, como a Bem-aventurada Albertina!
(Os restos mortais da B. Albertina estão sepultados na capela de São Luís, sua comunidade, como na foto acima; ali as romarias são contínuas).
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Se quiser saber mais sobre a vida e a morte da B. Albertina, Cf. HILÁRIO MOSER, Albertina, a Menina Bem-aventurada, Edições Loyola, São Paulo, 2009, 61 páginas.
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São José, rogai por nós!
NOSSA SENHORA, Mãe das Dores e de Misericórdia, que a luz que emana das chagas gloriosas de Vosso Filho Jesus, destruam as forças de nossos inimigos pelo Sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, Nosso Senhor, dos nossos inimigos, em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, AMÉM!
Dízimo - orientações:
DÍZIMO, LEI DO AMOR Amar a Deus sobre todas as coisas. Amar o teu próximo como a ti mesmo.
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DÍZIMO, LEI DO AMOR “Dá glória a Deus de bom coração e nada suprimas das primícias (do produto) de tuas mãos. Faze todas as tuas oferendas com um rosto alegre, consagra os dízimos com alegria. Dá ao Altíssimo conforme te foi dado por ele, dá de bom coração de acordo com o que tuas mãos ganharam, pois o Senhor retribui a dádiva, e recompensar-te-á tudo sete vezes mais”.(Eclesiástico 35,10-13).
DÍZIMO OU OFERTA? O Dízimo faz parte da lei do amor. Só quem ama a Deus e ao próximo persevera como dizimista. E justamente por essa razão existe o quinto mandamento da Igreja - Pagar o Dízimo segundo o costume - que não somente reconhece seu valor, como também necessita dele para evangelizar. Com o dízimo, a evangelização se propaga de maneira digna e equilibrada. É verdade que na Bíblia Sagrada Deus nos pede o Dízimo e a Oferta. “Pagai integralmente os dízimos à casa do Senhor” (Mal 3,10). “Dizei ao povo de Israel que me faça uma oferta diz o Senhor”(Ex 25,2).
OFERECER O DÍZIMO
Quando oferecemos o dízimo, por amor a Deus, o céu se abre e muitas bênçãos são derramadas. O amor de Deus invade todo o nosso ser, transcendendo o visível, fazendo-se percebido nas ações mais condizentes com o cristão: de fraternidade, justiça, paciência, humildade, alegria, coragem, fortaleza. |
O MENINO E A MOEDA
Um homem resolveu construir um muro. Depois que o muro ficou pronto sobrou um monte de entulho. O homem convidou um menino para remover aquele resto de obra. Combinou pagar a quantia de R$ 10,00. Era serviço para poucas horas. O serviço foi concluído em menos de 3 horas e o pagamento foi feito com uma nota de R$ 5,00 e cinco moedas de R$ 1,00. Mostrando alegria por ter recebido o seu pagamento, o menino colocou nos bolsos da frente da velha bermuda que usava, a nota e quatro moedas, no bolso de trás colocou a outra moeda. Curioso com o fato, o homem perguntou ao menino porque havia separado aquela moeda. Demonstrando muita consciência e segurança, respondeu o menino: “-O padre da minha Igreja leu na Bíblia que de tudo que a gente recebe, 10% é de Deus e que devemos devolver a Ele como Dízimo. Esta moeda é a parte de Deus que vou levar para a minha Igreja”. |