quarta-feira, 28 de abril de 2010
11- Os Mandamentos: dom de Deus:
Quando eu era bispo de Tubarão (SC), na visita pastoral a uma capela de uma paróquia, eu perguntei ao povo, como costumava fazer frequentemente, se ainda lembrava os Mandamentos da Lei de Deus.
Ninguém abriu a boca.
Então perguntei quantos eram.
Ninguém se arriscou a falar.
Perguntei quantos eram os “dez” Mandamentos.
Ainda assim houve quem duvidasse.
Talvez o silêncio resultava mais da timidez do que da ignorância.
Em todo caso...
Muito bem – eu disse –, então agora vamos dizer todos juntos os Dez Mandamentos da Lei de Deus: primeiro... segundo... terceiro...
Conseguimos chegar ao quinto, depois a coisa empacou.
Então, fui dando as dicas: sexto... sétimo...
Quando chegamos no oitavo, eu disse: “Não levantar...” e fiquei esperando o resto da frase.
Uma mulher criou coragem e completou assim: “a mulher do próximo”.
Tive que rir.
“De fato – eu disse -, nem sempre é fácil levantar... a mulher do próximo, sobretudo se for pesada”...
Todo mundo riu também e... mais uma vez constatei como o que se aprendeu no catecismo, se é que se aprendeu, aos poucos vai se apagando da memória e, o que é pior, da vida.
Sendo assim, vamos recordar os Mandamentos que são a expressão da vontade de nosso Deus para o nosso bem.
Nossas leis se multiplicam simplesmente porque não se observam as “dez leis” que Deus nos deu, condensadas em “duas” por Jesus e, afinal, em uma só: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Tudo se resume no amor.
Nos Mandamentos estão em jogo três amores que, na verdade, são um só: o amor de Deus por nós, o nosso amor a Deus e o nosso amor aos irmãos e irmãs.
Expulsemos, pois, da mente e do coração o temor de que os Mandamentos são normas impostas por um Deus voluntarioso e dominador.
Pelo contrário, compreendamos que tudo se reduz ao amor.
Diz São João: “Amar consiste no seguinte: em viver conforme os mandamentos de Deus” (2João 6).
E explicita: “No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou á perfeição do amor. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro... E este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1João 4,18-19.21).
Jesus, por sua vez, nos interpela: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando” (João 15,14).
Estas palavras contêm todo o espírito com que devemos conhecer, amar e praticar os Mandamentos.
Os Dez Mandamentos não foram dados por Deus pelo gosto de mandar.
Se os seres humanos, criados para o bem, não tivessem, desde o início, praticado o mal – e ainda hoje o praticam! –, que necessidade haveria de mandamentos?
O que se faz por amor não precisa ser mandado.
Quando, porém, o amor falha “por dentro” – o que ocorre quando Deus deixa de ser a meta da nossa vida –, o ser humano precisa de ajuda “vinda de fora” para alcançar seu Fim.
Eis a razão pela qual Deus, em sua misericórdia, nos proporciona essa ajuda por meio dos mandamentos.
“O mandamento é uma lâmpada, e a lei, uma luz” (Provérbios 6,23).
Deus, com sua luz, nos mostra o Caminho da Vida.
Convençamo-nos, pois, que os mandamentos, longe de ser um ato ditatorial, são a mão amorosa que o Pai nos estende para nos conduzir pelo caminho do bem.
Também não se pode pensar que haja contraste entre os mandamentos e o Evangelho. Pelo contrário.
O Evangelho continua e aperfeiçoa os mandamentos.
O próprio Jesus disse: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir” (Mateus 5,17).
Aqui conviria ler por inteiro o Sermão da Montanha (cf. Mateus 5-7).
A abertura é solene: Jesus proclama as Bem-aventuranças.
Elas são a fina-flor da perfeição evangélica.
A perfeição do Novo Testamento é mais exigente que a do Antigo.
Por isso, para se fazer entender adequadamente a respeito de alguns pontos, Jesus diz: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás’ [...] ‘Não cometerás adultério’ [...] ‘Quem despedir sua mulher dê-lhe um atestado de divórcio’ [...] ‘Não jurarás falso’ [...] ‘Olho por olho, dente por dente’ [...] ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’”...
A todos estes mandamentos, digamos, à “moda do Antigo Testamento”, Jesus contrapõe os mandamentos à “moda do Evangelho”, com estas palavras: “Eu, porém, vos digo”....
Dessa forma, Ele corrige e aperfeiçoa as limitações dos mandamentos da Antiga Aliança.
Não só, mas Jesus também sintetizou Dez Mandamentos em poucas palavras.
“Um fariseu perguntou a Jesus: ‘Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?’ Ele respondeu: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mateus 22,36-40).
Por sua vez, São Paulo ensina que “o amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Romanos 13,10).
Foi este o mandamento antigo, que Jesus na última ceia chamou de mandamento novo, e que nos deixou como sua suprema vontade: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (João 13,34).
Este é o coração da perfeição do Evangelho!
Que conclusão se deve tirar de tudo isto?
Esta: quem quiser buscar a perfeição proposta por Jesus não pode limitar-se ao cumprimento do mínimo dos mínimos.
Os fariseus e escribas é que mediam até onde podiam chegar sem cometer pecado...
Jesus advertiu seus discípulos contra esse perigo: “Eu vos digo: se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos céus” (Mateus 5,20).
Jesus nos convida ao máximo possível: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,48).
Não basta evitar o pecado, não basta ser bom, é preciso esforçar-se para ser sempre melhor.
Evidentemente, para isso, precisamos da ajuda do Senhor, como ele mesmo afirmou: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15,5).
Para terminar, vamos recordar os Mandamentos da Lei de Deus:
“Amar a Deus sobre todas as coisas.
Não tomar seu santo nome em vão.
Guardar domingos e festas de guarda.
Honrar pai e mãe.
Não matar.
Não pecar contra a castidade.
Não furtar.
Não levantar falso testemunho.
Não desejar a mulher do próximo.
Não cobiçar as coisas alheias”.
Muito bem.
Agora seria conveniente fazer um exame de consciência para ver se você procura praticar a vontade de Deus e nosso Pai.
E, se tiver dúvida, achando que os Mandamentos não condizem com o ser humano, experimente dizê-los em forma negativa: ponha um “não” diante dos três primeiros, e um “sim”, no lugar do “não”, diante dos outros sete.
E veja o que sobra do ser humano e da humanidade: esse mundo seria um inferno!
Os Mandamentos ajudam o ser humano a ser “mais humano”, indicam o caminho da Vida, da Verdade, do Bem e... do céu.
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Para aprofundar os Mandamentos, cf. HILÁRIO MOSER, Os Mandamentos, Dom de Deus para nós, seu povo, Editora Salesiana, São Paulo, 2008.
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Ninguém abriu a boca.
Então perguntei quantos eram.
Ninguém se arriscou a falar.
Perguntei quantos eram os “dez” Mandamentos.
Ainda assim houve quem duvidasse.
Talvez o silêncio resultava mais da timidez do que da ignorância.
Em todo caso...
Muito bem – eu disse –, então agora vamos dizer todos juntos os Dez Mandamentos da Lei de Deus: primeiro... segundo... terceiro...
Conseguimos chegar ao quinto, depois a coisa empacou.
Então, fui dando as dicas: sexto... sétimo...
Quando chegamos no oitavo, eu disse: “Não levantar...” e fiquei esperando o resto da frase.
Uma mulher criou coragem e completou assim: “a mulher do próximo”.
Tive que rir.
“De fato – eu disse -, nem sempre é fácil levantar... a mulher do próximo, sobretudo se for pesada”...
Todo mundo riu também e... mais uma vez constatei como o que se aprendeu no catecismo, se é que se aprendeu, aos poucos vai se apagando da memória e, o que é pior, da vida.
Sendo assim, vamos recordar os Mandamentos que são a expressão da vontade de nosso Deus para o nosso bem.
Nossas leis se multiplicam simplesmente porque não se observam as “dez leis” que Deus nos deu, condensadas em “duas” por Jesus e, afinal, em uma só: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Tudo se resume no amor.
Nos Mandamentos estão em jogo três amores que, na verdade, são um só: o amor de Deus por nós, o nosso amor a Deus e o nosso amor aos irmãos e irmãs.
Expulsemos, pois, da mente e do coração o temor de que os Mandamentos são normas impostas por um Deus voluntarioso e dominador.
Pelo contrário, compreendamos que tudo se reduz ao amor.
Diz São João: “Amar consiste no seguinte: em viver conforme os mandamentos de Deus” (2João 6).
E explicita: “No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou á perfeição do amor. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro... E este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1João 4,18-19.21).
Jesus, por sua vez, nos interpela: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando” (João 15,14).
Estas palavras contêm todo o espírito com que devemos conhecer, amar e praticar os Mandamentos.
Os Dez Mandamentos não foram dados por Deus pelo gosto de mandar.
Se os seres humanos, criados para o bem, não tivessem, desde o início, praticado o mal – e ainda hoje o praticam! –, que necessidade haveria de mandamentos?
O que se faz por amor não precisa ser mandado.
Quando, porém, o amor falha “por dentro” – o que ocorre quando Deus deixa de ser a meta da nossa vida –, o ser humano precisa de ajuda “vinda de fora” para alcançar seu Fim.
Eis a razão pela qual Deus, em sua misericórdia, nos proporciona essa ajuda por meio dos mandamentos.
“O mandamento é uma lâmpada, e a lei, uma luz” (Provérbios 6,23).
Deus, com sua luz, nos mostra o Caminho da Vida.
Convençamo-nos, pois, que os mandamentos, longe de ser um ato ditatorial, são a mão amorosa que o Pai nos estende para nos conduzir pelo caminho do bem.
Também não se pode pensar que haja contraste entre os mandamentos e o Evangelho. Pelo contrário.
O Evangelho continua e aperfeiçoa os mandamentos.
O próprio Jesus disse: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir” (Mateus 5,17).
Aqui conviria ler por inteiro o Sermão da Montanha (cf. Mateus 5-7).
A abertura é solene: Jesus proclama as Bem-aventuranças.
Elas são a fina-flor da perfeição evangélica.
A perfeição do Novo Testamento é mais exigente que a do Antigo.
Por isso, para se fazer entender adequadamente a respeito de alguns pontos, Jesus diz: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás’ [...] ‘Não cometerás adultério’ [...] ‘Quem despedir sua mulher dê-lhe um atestado de divórcio’ [...] ‘Não jurarás falso’ [...] ‘Olho por olho, dente por dente’ [...] ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’”...
A todos estes mandamentos, digamos, à “moda do Antigo Testamento”, Jesus contrapõe os mandamentos à “moda do Evangelho”, com estas palavras: “Eu, porém, vos digo”....
Dessa forma, Ele corrige e aperfeiçoa as limitações dos mandamentos da Antiga Aliança.
Não só, mas Jesus também sintetizou Dez Mandamentos em poucas palavras.
“Um fariseu perguntou a Jesus: ‘Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?’ Ele respondeu: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mateus 22,36-40).
Por sua vez, São Paulo ensina que “o amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Romanos 13,10).
Foi este o mandamento antigo, que Jesus na última ceia chamou de mandamento novo, e que nos deixou como sua suprema vontade: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (João 13,34).
Este é o coração da perfeição do Evangelho!
Que conclusão se deve tirar de tudo isto?
Esta: quem quiser buscar a perfeição proposta por Jesus não pode limitar-se ao cumprimento do mínimo dos mínimos.
Os fariseus e escribas é que mediam até onde podiam chegar sem cometer pecado...
Jesus advertiu seus discípulos contra esse perigo: “Eu vos digo: se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos céus” (Mateus 5,20).
Jesus nos convida ao máximo possível: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,48).
Não basta evitar o pecado, não basta ser bom, é preciso esforçar-se para ser sempre melhor.
Evidentemente, para isso, precisamos da ajuda do Senhor, como ele mesmo afirmou: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15,5).
Para terminar, vamos recordar os Mandamentos da Lei de Deus:
“Amar a Deus sobre todas as coisas.
Não tomar seu santo nome em vão.
Guardar domingos e festas de guarda.
Honrar pai e mãe.
Não matar.
Não pecar contra a castidade.
Não furtar.
Não levantar falso testemunho.
Não desejar a mulher do próximo.
Não cobiçar as coisas alheias”.
Muito bem.
Agora seria conveniente fazer um exame de consciência para ver se você procura praticar a vontade de Deus e nosso Pai.
E, se tiver dúvida, achando que os Mandamentos não condizem com o ser humano, experimente dizê-los em forma negativa: ponha um “não” diante dos três primeiros, e um “sim”, no lugar do “não”, diante dos outros sete.
E veja o que sobra do ser humano e da humanidade: esse mundo seria um inferno!
Os Mandamentos ajudam o ser humano a ser “mais humano”, indicam o caminho da Vida, da Verdade, do Bem e... do céu.
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Para aprofundar os Mandamentos, cf. HILÁRIO MOSER, Os Mandamentos, Dom de Deus para nós, seu povo, Editora Salesiana, São Paulo, 2008.
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